Livro de Salmos
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1. TÍTULO, DIVISÃO, AUTORES
1.1 TÍTULO
HEBRAICO - O titulo hebraico antigo do livro era Tehillim, «cânticos de louvor». Esse título refletia o principal conteúdo dessa coletânea em geral. Mas vários outros vocábulos hebraicos introduzem salmos específicos.
GREGO - O titulo desse livro do Antigo Testamento vem do grego psalmós, que indica um cântico para ser cantado com o acompanhamento de algum instrumento de cordas, como a harpa.
O verbo grego psallein significa «tanger». A Septuaginta diz Psalmoí como o titulo do livro. E é da Septuaginta que se deriva o titulo moderno do livro.
Importante: Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida em etapas para o grego koiné, entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. Dentre outras tantas, é a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego)
A Vulgata Latina diz, como titulo, Liber Psalmorum.
Importante: A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta.
1.2. DIVISÃO
Os Cinco Livros: O livro de Salmos divide-se em cinco livros. São os seguintes:
Livro I (Sal. 1-41);
Livro II (Sal. 42-72)
Livro III (Sal. 73-89)
Livro IV (Sal. 90-106)
Livro V (Sal. 107-150).
Quatro Tipos Principais:
1. Os Salmos de Davi. O livro I (Sal. 1 - 41) é essencialmente atribuído a Davi, exceto o Salmo 1, que é a introdução a esse livro I, e o Sal. 33, que não tem título. Parece que foi Davi quem primeiro coligiu o primeiro grande bloco de material que, finalmente, veio a fazer parte da coletânea total, no livro de Salmos. Um total de setenta e quatro salmos lhe são atribuídos.
2. Os Salmos de Salomão. Os livros II e III exibem um maior interesse nacional que o livro I. Esses livros incluem os Sal. 42 a 89. O rei Salomão pode ter sido o compilador (embora não o autor) do livro II. Porém, os Sal. 42 a 49 são produção do clã cantante dos filhos de Coré. O Salmo 50 é de autoria de Asafe.
3. Os Salmos Exilicos. O livro III contém os Salmos 32, 52, 74, 79, e 89, que aludem à história posterior de Israel, já distante do período de Davi, mencionando a destruição de Jerusalém, em 586 A.C., e certas condições próprias do exílio. Porém, esse livro mostra certa variedade de composições, da parte de vários autores. De Davi (como o Sal. 86), de Asafe (Sal. 73 -83), dos filhos de Coré (Sal. 84, 85 e 87).
4. Os Salmos da Restauração, Pós-Exilicos e Macabeus. Nestes salmos predomina o interesse litúrgico. Os Salmos 107 e 127 devem ter provindo do tempo após o retorno dos exilados, em 537 A.C., e talvez existissem em uma coletânea separada, que foi então adicionada. Um inspirado escriba pode ter trazido o livro V (Sal. 107 - 150) à existência, unindo-o aos livros I - IV, ao adicionar a sua própria composição (Sal. 146-150) como uma espécie de grande aleluia! relativo ao Saltério inteiro. E isso pode ter ocorrido em cerca de 444 A.C. (Sal. 147.13), quando Esdras proclamou a renovação da adoração de Israel no segundo templo de Jerusalém. Alguns estudiosos pensam que o próprio Esdras pode ter sido o responsável pela compilação final (Esd. 7.10). Outros eruditos acreditam que o período dos Macabeus foi o tempo da produção de muitos salmos, a começar por 168 A.C. Porém, naquele período, o aramaico já havia sobrepujado quase inteiramente o hebraico, e os salmos não foram compostos em aramaico. Ademais, o material dos Manuscritos do Mar Morlo contém os salmos, fazendo.a data de sua composição retroceder para antes do período dos Macabeus. Por conseguinte, é improvável que um grande número de salmos se tenha originado no tempo dos Macabeus.
1.3. AUTORES
Analisando somente os TítulosDavi - Atribuídos a Davi são 74
Salomão - Sal. 72 e 127
Sábio de nome Hemã - Sal. 88
Sábio chamado Etã - (Sal. 89; quanto a esse, ver I Reis 4.31)
Moisés - Sal. 90
Cantores leviticos de Asafe - 23 - Sal. 50; 73-83
Vários aos filhos de Coré - Sal. 42, 43, 44-49, 84, 85, 87
Demais salmos restantes são anônimos.
Os conservadores contentam-se em confiar no valor histórico desses informes.
Os eruditos liberais tem achado pouco ou nenhum valor nessas informações.
Os conservadores acreditam que a maior parte dos salmos foi composta nos dias do Davi.
E os liberais em um desenvolvimento gradual da coletânea, a começar por Davi, com uma compilação final nos tempos pós-exílio.
2. AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO LIVRO
2.1 A POESIA HEBRAICA
Como é evidente, os Salmos são a grande coletânea de composições poéticas da Bíblia. Ficamos admirados diante da qualidade de muitas dessas antigas peças literárias, algumas das quais são obras-primas em miniatura.
A poesia teve uma antiga e longa tradição na literatura dos hebreus.
Foi Robert Lowth, professor de poesia em Oxford, Inglaterra, quem primeiro chamou a atenção para o princípio fundamental da poesia hebraica. Em seu tratato, De Sacra Poesi Hebraeorum: Praelectiones Academicae de 1753.4 Os tipos de Paralelismo foram classificados por Lowth em três categorias:
(1) Sinomínico: consiste em expressar duas vezes a mesma idéia com palavras diferentes, como em Sl 113:7.
Ele levanta do pó o necessitado E ergue do lixo o pobre. (NVI).
(2) Antitético: é formado pela oposição ou pelo contraste entre duas idéias ou imagens poéticas, como em Sl 37:21.
Os ímpios tomam emprestado e não devolvem, Mas os justos dão com generosidade. (NVI).
(3) Sintético: aqui as duas linhas do verso não dizem a mesma coisa, mas antes, a declaração da primeira linha serve como base sobre a qual a segunda declaração se fundamenta. A relação é a de causa e efeito, como em Sl 19:7-8.
A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, E tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. (NVI).
A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do Senhor são dignos de confiança, E tornam sábios os inexperientes. Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. (NVI).
2.2 ACRÓSTICOS
Característica da poesia hebraica é o emprego do arranjo, acróstico ou alfabético.
Existem nove salmos acrósticos no saltério.
São eles: 9-10, 25, 34, 37, 111-112, 119 e 145.
Neste tipo de composição, as linhas ou estrofes iniciam cada uma, com letras em ordem alfabética. Essa técnica, a exemplo do paralelismo, auxiliaria na memorização e no ensino. Isto também pode sugerir-se que o assunto foi tratado de forma completa.
Um acróstico é qualquer composição poética na qual certas letras de cada verso, quando lidas em outra direção e sentido, formam uma palavra ou frase
2.3 REFRÃO
O refrão é a repetição literal de uma frase ou formula.
1 Louvai ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre.
2 Digam-no os remidos do Senhor, os que remiu da mão do inimigo,
3 E os que congregou das terras do oriente e do ocidente, do norte e do sul.
4 Andaram desgarrados pelo deserto, por caminhos solitários; não acharam cidade para habitarem.
5 Famintos e sedentos, a sua alma neles desfalecia.
6 E clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades.
7 E os levou por caminho direito, para irem a uma cidade de habitação.
8 Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.
9 Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta.
10 Tal como a que se assenta nas trevas e sombra da morte, presa em aflição e em ferro;
11 Porquanto se rebelaram contra as palavras de Deus, e desprezaram o conselho do Altíssimo.
12 Portanto, lhes abateu o coração com trabalho; tropeçaram, e não houve quem os ajudasse.
13 Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades.
14 Tirou-os das trevas e sombra da morte; e quebrou as suas prisões.
15 Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.
16 Pois quebrou as portas de bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro.
17 Os loucos, por causa da sua transgressão, e por causa das suas iniqüidades, são aflitos.
18 A sua alma aborreceu toda a comida, e chegaram até às portas da morte.
19 Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e ele os livrou das suas dificuldades.
20 Enviou a sua palavra, e os sarou; e os livrou da sua destruição.
21 Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.
22 E ofereçam os sacrifícios de louvor, e relatem as suas obras com regozijo.
23 Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas.
24 Esses vêem as obras do Senhor, e as suas maravilhas no profundo.
25 Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso que eleva as suas ondas.
26 Sobem aos céus; descem aos abismos, e a sua alma se derrete em angústias.
27 Andam e cambaleiam como ébrios, e perderam todo o tino.
28 Então clamam ao Senhor na sua angústia; e ele os livra das suas dificuldades.
29 Faz cessar a tormenta, e acalmam-se as suas ondas.
30 Então se alegram, porque se aquietaram; assim os leva ao seu porto desejado.
31 Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens.
32 Exaltem-no na congregação do povo, e glorifiquem-no na assembléia dos anciãos.
33 Ele converte os rios em um deserto, e as fontes em terra sedenta;
34 A terra frutífera em estéril, pela maldade dos que nela habitam.
35 Converte o deserto em lagoa, e a terra seca em fontes.
36 E faz habitar ali os famintos, para que edifiquem cidade para habitação;
37 E semeiam os campos e plantam vinhas, que produzem fruto abundante.
38 Também os abençoa, de modo que se multiplicam muito; e o seu gado não diminui.
39 Depois se diminuem e se abatem, pela opressão, e aflição e tristeza.
40 Derrama o desprezo sobre os príncipes, e os faz andar desgarrados pelo deserto, onde não há caminho.
41 Porém livra ao necessitado da opressão, em um lugar alto, e multiplica as famílias como rebanhos.
42 Os retos o verão, e se alegrarão, e toda a iniqüidade tapará a boca.
43 Quem é sábio observará estas coisas, e eles compreenderão as benignidades
3. ESCLARECIMENTOS DE ALGUMAS EXPRESSÕES
3.1 SELA
Os tradutores dos tempos antigos ficavam perplexos diante dessa palavra, seu significado e função nos vários salmos onde ela aparece. A Oxford Annotated Bible, no vs. 2 deste salmo, diz-nos que se tratava de uma orientação litúrgica, talvez para relembrar que os salmos, nesse ponto, deveriam ter um interlúdio musical.
Devemos lembrar que os salmos deviam ser musicados. Essa suposição provavelmente é tão boa quanto outra qualquer. Talvez esta palavra venha de salah, “elevar-se”, e poderia significar “elevar o tempo da música para cantar, neste ponto”.
No Sal. 9.16, a palavra é associada ao vocábulo hebraico higgaion, uma referência ao som de instrumentos musicais. Outros estudiosos identificam a palavra como derivada de um termo que significa “fazer silêncio”. Nesse caso, selá indica que os cantores deveriam manter silêncio, enfatizando alguma declaração ou pensamento.
Essa palavra acha-se por setenta e três vezes nos salmos.
Seja como for, permanecemos em dúvida se ela nos convoca a fazer silêncio e meditar no que acaba de ser dito, ou se devemos levantar grande ruído, cantando e tocando instrumentos musicais. Aben Ezra conjecturou que sua força fosse a de um “Amém!". Certo autor tentou mostrar que era um nome divino. “Muita coisa tem sido dita sobre o significado dessa palavra, mas nada temos além de conjecturas para guiar-nos. A Septuaginta sempre a traduz pelo termo grego diapsalma, ou seja, uma ‘pausa’ no salmo que estivesse sendo entoado" (Adam Clarke, in loc). Perplexas, algumas traduções simplesmente a deixam sem tradução
3.2 MASQUIL
"Masquil" significa "instrução”. São salmos didáticos (Sal. 74, 78 e 79).
3.3 DEGRAUS
Sir Hammolot - cânticos dos degraus (Sal. 120 a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas.
SALMO 120 - Alguns eruditos defendem que essas palavras significam Cântico dos Degraus, significando estágios da subida (conforme diz, literalmente, o hebraico original) dos cativos a caminho de Jerusalém, vindos da Babilônia. Os intérpretes que concordam com isso salientam que temos a palavra hebraica maalah, em Esd. 7.9, para referir-se ao retorno da Babilônia.
Contra essa teoria temos o fato aparente de que alguns dos salmos refletem datas possivelmente posteriores ao retorno da Babilônia (conforme se vê nos Salmos 125, 127,129,131 e 133). Mas também temos a possível tradução de Cântico da Subida, que poderia apontar para algo semelhante a “cântico dos degraus”. Ou então isso poderia referir-se aos quinze degraus que ligavam o átrio das mulheres ao átrio dos homens. Acerca disso disse Kimchi: “Havia quinze degraus pelos quais os sacerdotes subiam ao templo, e em cada um deles ele entoava um cântico dos quinze, empregando esses salmos”.
Vocábulos
- Shír - cântico (29 salmos).
- Mizmor - melodia, salmo (57 salmos); essa palavra subentende o tanger de algum instrumento de cordas, pelo que é similar ao termo grego psalmós.
- Sir Hammolot - cânticos dos degraus (Sal. 120 a 134), que eram cânticos entoados por peregrinos que subiam a Jerusalém para celebrar as festividades religiosas.
- Miktam - cujo sentido exato se perdeu, embora haja nas composições envolvidas a idéia de lamentações e expiação (Sal. 16, 56-40).
- Maskil - instrução, que são salmos didáticos (Sal. 74, 78 e 79).
- Siggayon, também de significado duvidoso, mas talvez uma palavra relacionada ao termo hebraico saga, «dar uma guinada», «girar», referindo-se a um tipo de música agitada (Sal. 7).
- Tepilía - oração, referindo-se a alguma composição poética entoada como uma oração ou petição (Sal. 142).
- Toda - agradecimento
- Le annot - aflição.
- Hazkir - comemorar ou lembrança, como no caso de um pecado cometido (Sal. 38 e 70).
- Yedutum - confissão (Sal. 39, 62 e 77).
- Lammed - ensinar (Sal. 60).
- Menasseah - diretor musical (55 salmos).
- Yonat elem rehoqim, que diz respeito a alguma pomba (deve estar em foco algum tipo de sacrifício).
- Ayyelet hassahar - corça do alvorecer (estando em foco algum sacrifício).
- Sosannim - lírios (Sal. 60, 65 e 69), talvez uma referência ao uso de flores em cortejos nos quais eram entoados salmos.
- Neginot uma referência a instrumentos musicais que sem dúvida acompanhavam o cântico de salmos (Sal. 6, 54, 55 e 67).
- Sela - elevar, talvez uma direção para que se elevasse a voz, em algum tipo de bênção ou vozes responsivas (39 salmos).
- Nehilot - flautas, uma referência ao acompanhamento do cântico de salmos por meio desse instrumento de sopro.
Comentário de Champlin
http://www.monergismo.com/textos/comentarios/exegese_%20da_poesia_hebraica.pdf
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